“Edifício verde”, “green building” e “construção sustentável” são termos que a gente tem ouvido muito nos últimos anos. Uma das certificações que classifica uma edificação como “sustentável” é o LEED. Nesse artigo, você confere um resumo prático sobre esse selo, para que serve, quais os critérios de avaliação, como obter e muito mais!
Muitos institutos independentes foram criados para avaliar empresas, produtos e serviços para que utilizem as práticas sustentáveis levando em consideração o desenvolvimento econômico e social sem comprometer as futuras gerações. No setor da construção civil, uma dessas instituições é o U.S. Green Building Council que tem foco em sustentabilidade de edificações e empreendimentos imobiliários.
O USGBC tem um selo de certificação para projetos que atendam uma série de requisitos sustentáveis, e é este o selo chamado de LEED – Leadership in Energy and Environmental Design. A primeira versão foi lançada em janeiro de 1999, onde se definiram critérios para acumulação de pontos para certificação com base em consenso dos membros fundadores deste Conselho.
O Brasil também tem seu escritório ligado ao USGBC, o GBC Brasil, o qual divulga e aplica a certificação americana LEED por aqui. Ele também promove atividades de capacitação, compilação e divulgação das “melhores práticas” sobre esse tema.
Para que serve o LEED?
Um empreendimento certificado com LEED é garantia de um projeto de alta performance, sustentável e com reconhecimento internacional.
Na questão comercial, existe ganho de competitividade, mais evidentes para edifícios comerciais, porque afasta o risco de obsolescência em comparação com empreendimentos não certificados. Há maior velocidade de ocupação, menores custos operacionais. Isso se traduz em valorização da propriedade acima do valor médio de mercado.
Do ponto de vista social, o selo LEED representa mais conscientização, segurança e saúde dos trabalhadores e ocupantes. Há um aumento do senso de comunidade que se transforma em satisfação e bem estar dos usuários.
Além disso, não podemos desconsiderar que um edifício certificado pode se alinhar com a politica ambiental da empresa e, consequentemente, com a estratégia de marketing.
Todos esses pontos precisam ser avaliados na concepção do projeto para confirmar a viabilidade financeira e operacional. A adoção do LEED é custosa, há diversas alterações de projetos quando comparados com uma construção convencional e pode atrasar a obra por conta do desconhecimento das práticas pelos profissionais envolvidos na implantação. Sendo direto e sem idealismo, o aproveitamento das vantagens depende da localização do projeto, perfil dos ocupantes, capacitação da mão de obra e técnicos envolvidos.
Tipos de selos:
Existem 8 tipologias de certificação LEED que variam em função do tipo de projeto e uso final da construção, são elas:
LEED NC – Novas construções e grandes projetos de renovação;
LEED ND – Desenvolvimento urbano de bairro e loteamentos;
LEED CS – Projetos da parte central do edifício (Core) e envoltória (Shell), muito comum em edifícios de escritório;
LEED Retail NC e CI – Lojas de varejo;
LEED Healthcare – Unidades de saúde;
LEED EB_OM – Operação de manutenção de edifícios existentes;
LEED Schools – Escolas e edifícios educacionais;
LEED CI – Projetos de interiores ou edifícios comerciais.
Vale citar que, no Brasil, os selos LEED NC e CS correspondem a aproximadamente 80% dos registros.
Existe uma série de exigências mínimas que formam um pré-requisito e, ainda, créditos em função das características que a edificação possui. Esses créditos vão somando pontos que resultam em classificações do selo a seguir, além da tipologia:
Certificated – Certificado LEED (mais simples)
Silver – Certificação Prata
Gold – Certificação Ouro
Platinum – Certificação Platina (mais exigente)
Critérios de avaliação:
Para conquistar o LEED, um projeto precisa passar por um sistema de notas (rating system) em vários critérios para certificar a sustentabilidade e a redução do impacto ambiental da construção comprovando que foram adotadas práticas que levaram o meio ambiente em consideração. Esses critérios são divididos em 8 grupos que reúnem diferentes pontos técnicos e sociais que devem ser levados em conta na avaliação:
MPR – Minimum Program Requirements: Este conjunto de critérios compõe os requisitos mínimos para obter o selo de certificação. Eles estão relacionados ao atendimento do projeto à legislação vigente que envolva o meio ambiente nas esferas municipal, estadual e federal, como Códigos de Obras e Lei de Zoneamento.
SS – Sustainable Sites (Espaço Sustentável): Este grupo define pontos, tanto para estratégias durante a implantação do empreendimento (obra), quanto para problemáticas das grandes cidades, como mobilidade urbana e das ilhas de calor, sempre visando o terreno e seu entorno. Sendo mais direto, o projeto ganha pontos se contar com:
Prevenção da poluição na atividade da construção (ex. coleta seletiva no canteiro, lava rodas para caminhões); redução de poluição luminosa (ex. eliminar grandes letreiros e outdoors); maximização de espaços abertos (ex. praças e terraços); remediação de áreas contaminadas (ex. descontaminação de terrenos industriais); acesso ao transporte público (ex. próximos à pontos de ônibus e metro); redução área de estacionamento (desestímulo ao uso de transporte individualizado) e presença de bicicletário e vestiário.
WE – Water efficiency: Valoriza iniciativas para o uso eficiente e racional da água, com foco na redução do consumo de água potável, como:
Aproveitamento de água das chuvas; uso otimizado de água no paisagismo; diminuição de pressão; uso de areadores nas torneiras; estações para tratamento e reúso da água.
EA – Energy & atmosphere (Energia e Atmosfera): Premia a eficiência energética do projeto por meio de estratégias como:
Otimização do desempenho no uso de energia com equipamentos e sistemas eficientes (geradores a gás, elevadores inteligentes, sensores de presença para iluminação); geração local de energia renovável (ex. aquecedores solares, iluminação de áreas abertas em conjunto com painéis fotovoltaicos); atenção com gases refrigerantes (não utilização de CFC´s).
MR – Materials & Resources: Neste grupo, a utilização de materiais de baixo impacto ambiental e redução da geração de resíduos são incentivados, como:
Utilização somente de madeira certificada; gestão de resíduos da construção (ex. separação e descarte consciente); coleta seletiva de materiais recicláveis; reúso de materiais.
EQ – Indoor environmental quality: É o grupo de critérios que prezam pela a qualidade ambiental interna do ar, principalmente naqueles ambientes onde as pessoas permanecem por longos períodos, com alternativas como:
Presença de espaços com vista externa e luz natural; controle da ventilação; monitoramento da qualidade do ar exterior; escolha de materiais com baixa emissão de compostos orgânicos voláteis (COV) em, por exemplo, adesivos, selantes, tintas, vernizes e carpetes; sistemas de iluminação controláveis.
IN – Innovation in design or innovation in operations: Novas iniciativas no campo de desenvolvimento sustentável e green building podem receber créditos por este critério, mesmo se não forem citadas pelos documentos do LEED. Inovações no projeto, participação de profissional certificado pelo LEED, performance excepcional de sistemas podem garantir créditos extras para melhorar a classificação obtida.
Regional priority credits: Estes são pontos que variam de conforme a região, pois levam em consideração diferenças ambientais, sociais e econômicas de cada local.
Processo de certificação:
O primeiro passo para iniciar o processo de certificação LEED do seu empreendimento é submeter o projeto para registro no USGBC.
Após o registro, a etapa de análise se dará pela apresentação de 3 tipos de documentos:
Declaração padronizada LEED assinada pelos projetista ou responsáveis técnicos; plantas e memoriais descritivos de projetos e sistemas em inglês; cálculos também na língua inglesa.
Todos são, enviados ao USGBC. Cada crédito e pré-requisito serão analisados, com suas devidas documentações e registros comprobatórios.
A certificação, última etapa tem prazo variável de acordo com a tipologia e tamanho da obra (demora uma média de 40 dias).
Custo da certificação:
Podemos separar os custos em 3 grupos:
Custo da certificação pelo USGB: são taxas em US Dollars variando conforme o tipo de certificação e tamanho da obra. Você pode conferir os valores atualizados neste link: http://www.usgbc.org/cert-guide/fees#bdc
Custo de consultoria especializada: esse não é um item obrigatório, mas altamente recomendado. Representa as despesas com o apoio técnico de especialistas na obtenção do selo LEED, podendo custar de 0,5% a 1,0% do custo da obra;
Acréscimo nos custos da obra: estes são provocados pelas alterações de projeto devido a adoção de práticas sustentáveis para atender aos critérios desse certificado de edifício verde. Os custos adicionais da obra também variam em função da classificação almejada, estima-se em 1% para o selo “Certificated” e 10% para o “Platinum”.
Outros selos de sustentabilidade:
Além do LEED, outros selos de certificação de sustentabilidade para o setor de construção civil têm reconhecimento e destaque como:
AQUA– Alta Qualidade Ambiental: É uma adaptação do sistema francês HQE – “Haute Qualité Environnementale” de 2004. A Fundação Vanzolini – ligada à Escola Politécnica da USP – é responsável pela adaptação e pelos critérios de certificação.
Selo Casa Azul CAIXA: A Caixa criou um certificado próprio para reconhecer os empreendimentos que adotam soluções que incentivam o uso racional de recursos naturais e a melhoria da qualidade da habitação e de seu entorno. Os critérios de avaliação estão relacionados aos seguintes temas: qualidade urbana, projeto e conforto, eficiência energética, conservação de recursos materiais, gestão da água e práticas sociais.
Foto: Divulgação/ Edifício Jacarandá – SP: certificação LEED Platinum
Por: Engenheiro no Canteiro